Casamento por Aparências - capítulo I.


CAPÍTULO I


- Não posso aceitar esse tipo de ajuda! – Falava
Amanda para si mesma.
Como ela explicaria ao seu filho e a sua família que iria
se casar com Antônio somente para destruir as esperanças de
Breno de voltarem a viver juntos?
Seu filho, com apenas cinco anos de idade, embora
acostumado com a ausência do pai, jamais entenderia uma
situação dessas.
- O que devo fazer? – Perguntou-se. Preciso apagar
qualquer possibilidade de voltar a viver com ele. Não voltaria
jamais a viver com um homem em quem não poderia confiar
novamente, não resistiria nem mesmo por meu filho, não
depois do que eu vi.
Pensamentos dolorosos, porem já superados, vieram à
cabeça de Amanda. Naquele dia ela e o filho foram à casa dos
sogros visitá-los. Quando chegaram os sogros não estavam
em casa, mas Amanda tinha visto o carro do marido na
garagem dos fundos e foi procurá-lo pela casa. Procuraram
por ele na parte inferior da casa, mas não o encontraram.
Curiosa pelo sumiço do marido, Amanda foi procurar na
parte superior onde ficavam os quartos. Estava tudo em
silêncio, mas ele teria de estar lá, Breno não deixaria de ir
com seu carro nem na esquina. Amanda então foi procurá-lo
no quarto onde ele dormia quando solteiro. Ao abrir a porta
ela viu seu marido na cama, transando com outra mulher. A
surpresa foi tanta que ela ficou paralisada por alguns segundos
absorvendo aquela notícia. Ela não queria acreditar no que
via, era doloroso ver que o homem ao qual tanto dedicara e
amara a traia descaradamente na casa dos pais. Ao vê-la ele
ficou parado sem expressar qualquer reação, o que a deixou
ainda mais cega com o cinismo dele. Sem saber o que fazer,
Amanda saiu do quarto sem olhar para trás. Pegou seu filho
que estava assistindo TV e foram embora.
Chegando em casa, ela levou o filho para assistir
seu desenho preferido e foi para seu quarto tentar ingerir o
acontecido.
- Tantas foram as vezes que eu o procurei. – Disse
ela com amargura, lembrando-se da humilhação que sentira
pelas rejeições do marido.
Por várias vezes Amanda se considerava inferior a ele,
pois Breno quase nunca se mostrava interessado nela, a não
ser que isso lhe trouxesse algum retorno além da satisfação
física. A dor que sentiu ao saber que era enganada a estava
matando.
- Hoje não meu amor, eu tive um dia cheio e estou
muito cansado. - Falava ele carinhoso para convencê-la. –
Quero dormir um pouco mais. – Ela, compreensiva, não o
perturbava mais, por pensar que o cansaço dele era causado
pelo trabalho. Agora ela sabia o porquê de tanta indiferença
por parte do marido. As reuniões eram outra forma dele ter
seus momentos de lazer com outras.
- Minha querida, hoje eu terei uma longa reunião e
não tenho horário para ir para casa. Não precisa me esperar
para jantar, iremos a um restaurante jantar todos juntos e
aproveitamos para adiantar a reunião. – Disse ele por várias
vezes durante os anos de casados.
Agora, tempos depois, ele volta insistindo no
reatamento dos dois. Como ela poderia aceitar tal pedido,
depois de tudo o que passara por causa das loucuras dele!
Não, ela não aceitaria, mas como resolver isso de uma vez
por todas? Como livrar-se do ex-marido sem afastá-lo do
filho que, embora ele pouco desse atenção, havia o vínculo
de pai e filho que não poderia ser ignorado. – Ela pensava.
- Não posso aceitar o pedido de casamento de um
amigo, somente para me livrar de Breno. – Amanda disse
para Antônio.
O amigo que sempre a apoiara e era muito bem
resolvido com os problemas, mas que agora não parecia agir
com a mesma racionalidade de sempre por ter lhe feito uma
oferta louca como a que fizera.
- Não será um casamento, Amanda. – Falara ele pegando
nas mãos da amiga, tentando confortá-la. – ficaremos juntos
somente por aparências, nada mais que isso. Assim você se
livra dele. – Parecia tão fácil ouvindo-o dizer aquilo com
aparente calma.
- Não seria justo com você Antônio! – Exclamara ela,
considerando a possibilidade fora de questão. – Ele, porém,
estava determinado a socorrer Amanda.
- Por que essa recusa tola? – Quis saber ele, se
aproximando dela, causando-lhe um clima bom de proteção,
carinho e respeito, que ele sempre a transmitia como amigo.
- Você merece uma pessoa ao seu lado que lhe dê amor,
não uma farsa. – Concluiu ela.
- Deixe que eu decida o que é justo ou não para mim,
tudo bem? – Ele falou olhando-a nos olhos. – Não quero vê-la
infeliz como estava quando nos conhecemos. Custou-me
muito ver um sorriso naquele rosto triste que você tinha.
– Amanda recordou as palavras do amigo com angustia e
alegria por saber que poderia contar com ele sempre.
De volta à realidade, ela não conseguia imaginar outra
solução para se ver livre do pai de seu filho definitivamente.
Breno era pegajoso e ligava para ela todos os dias, sempre
gentil, o que não acontecia muito quando eram casados.
Amanda se lembrava o quanto ele era dominador, mandão.
Como ela nunca percebera tudo o que via agora, quando eram
casados? Amanda sabia bem a resposta, ela o havia colocado
em um pedestal onde os defeitos dele não existiam. Para
o ex-marido, Amanda era apenas a dona de casa, a esposa
presente para quando ele julgava necessário, apenas isso. Ela
soube, após a separação, que uma relação como a deles não
tinha como crescer. Não eram dois em um, mas sim dois por
um, ou seja, por ele somente, e nada mais. Todavia, de toda
aquela triste experiência nascera seu maior tesouro, seu filho.
Amanda olhava distraidamente para a foto que tinha
do filho em sua mesa, quando uma voz familiar a acordou de
seus pensamentos:
- Bom dia! – Angustiada, ela levantou a cabeça com
um leve sorriso nos lábios.
- Olá Breno. – Respondeu friamente. – O que o traz
aqui?
- Gostaria de jantar comigo amanhã? – Convidou ele
esbanjando sorrisos.
- Sinto muito. Já tenho um compromisso. – falou ela
em tom educado.
- Desfaça-o. – Ele disse com o mesmo sorriso no rosto.
- Infelizmente não será possível. – Amanda estava
começando a ficar irritada com a arrogância daquele homem.
- Você está tentando fugir de mim? – Perguntou ele,
aproximando-se dela e exalando cheiro de colônia cara. –
Tem medo de ceder e descobrir que ainda me quer! – Amanda
o observou com um tom de quem tem plena certeza do que
afirmava.
- Por que eu faria isso? – Amanda perguntou encarando
o rosto dele.
Breno estava mais velho, embora ainda tivesse seu
charme. As marcas das noites mal dormidas eram evidentes
na face dele. Provavelmente tivera muitos momentos de
festas, badalações e mulheres. Mesmo estando irritada por
constatar tal fato, Amanda também sabia que não se tratava
de ciúmes; esse sentimento ela não nutria por ele há muito
tempo. Sua irritação era pelo fato de ele ter se esquecido de
suas responsabilidades como pai.
- Porque você faria isso, ainda não sei ao certo, mas
precisamos superar essas magoas. Temos um filho e isso não
será bom para ele.
Justamente ele falava de cuidados com o filho? –
Pensou ela. – Se não fosse Breno quem estivesse falando,
era possível até que ela acreditasse no que ouvia.
- Para que nosso filho esteja bem, não é necessário que
jantemos juntos. – Criticou ela.
Desde que voltou, Breno a convidava para jantares e
sempre usava o filho quando percebia que ela recusaria.
– Alem do mais, Lucas já se acostumou com a separação,
pois ela não aconteceu ontem, como você faz parecer, mas
sim há muito tempo. – Amanda estava indignada com o fato
dele só se preocupar com o bem estar do filho agora que
voltara sozinho, sem ninguém o esperando.
- Você é muito rancorosa, Amanda. Deveria se colocar
um pouco no lugar das pessoas. – Ela ficou tão admirada
com aquele comentário que fez ar de riso. – Tudo bem! –
Continuou ele, colocando as mãos dentro do bolso da calça.
- Eu não vou mais insistir, por enquanto. Você precisa ter seu
tempo.
Amanda ignorou cada palavra dele, pois duvidava que
pudesse ser tão fácil.
- Até mais, querida. – Disse ele pegando na mão dela e
dando-lhe um leve beijo antes de ir embora.
Amanda olhava para sua mão caída imaginando como
algumas pessoas eram capazes de mudar, em dias, suas
atitudes e seu jeito real de ser em prol de um objetivo. Breno
parecia outra pessoa, embora continuasse com a mesma
arrogância de sempre e que ela só percebera após a separação.
- Tudo bem com você Amanda? – Perguntou sua
assistente que estava na sala ao lado.
- Esta tudo bem Carol, obrigada! – Aproximando-se,
ela continuou. – Não sei mais o que fazer para me livrar das
investidas do Breno, isso já esta me cansando muito.
- Aceite a proposta do Antônio. – A moça era a grande
confidente de Amanda e sabia de todos os problemas que
ela passava com o ex-marido. Ambas se conheciam desde
os tempos de primário e sempre estiveram próximas, mesmo
quando Amanda estava casada.
- Não posso aceitar. – Amanda falou, pensando no quão
constrangedor seria para ela e Antônio. – Não seria justo com
ele.
- Foi ele quem se ofereceu para te ajudar. Isso quer
dizer alguma coisa. – Sugeriu a moça.
- Foi num momento impensado. Ele não pensou antes
de fazer a oferta.
- Você não tem alternativa, tem? – Perguntou a garota.
- Ainda não, mas vou pensar em algo. – Amanda
desejava conseguir outro meio menos complicado. Ainda
não tinha nada em mente, mas preferia acreditar que surgiria
outra solução que não comprometesse a amizade dela com
Antônio.
- E se não encontrar nada que possa ajudá-la? Correrá o
risco de ser laçada pelo seu ex novamente ou perder a guarda
de seu filho? – Amanda refletiu sobre o que a amiga disse e
ficou tensa ao pensar que ele poderia querer a guarda de seu
filho. Breno não teria coragem de fazer isso depois de ter
abandonado a criança. Ou teria?
- Não há a mínima possibilidade de eu voltar a ser
laçada por ele, como diz você. – A moça olhou para Amanda
com um enorme sorriso. – Quanto a ele querer a guardo do
Lucas, não acredito que levaria isso até o fim, Breno não
conseguiria viver com uma criança dependente dele o tempo
todo. – Ela preferia pensar que ele continuava avesso a
crianças pequenas.
- É um risco que você terá de correr, se não se resolver
logo.
Observando sua assistente, Amanda percebeu que
ela não a deixaria em paz se continuasse recusando a
possibilidade de aceitar a ajuda de Antônio.
- Tudo bem! Eu irei pensar a respeito. – Disse ela,
vendo um leve sorriso de satisfação no rosto da moça.
- Mulher sábia! – Respondeu Carol, quando Amanda
estava saindo para ir embora.
Em casa, Amanda pensou sobre o assunto com mais
clareza. Era sim uma atitude drástica, porém se estivessem
certos, seria por pouco tempo e não poderia trazer tantos
danos a um deles, como ela pensava. Eram adultos e sabiam
até onde poderiam ir, ou não? – O medo tornou a rondá-la,
levando por terra toda sua confiança. Chateada por não
se decidir em qual rumo tomar, ela foi para o banho tentar
refrescar o corpo e a cabeça. Quando estava saindo de seu
demorado banho o telefone tocou.
- Alô! - Era Antônio. – Estou em casa. – Respondeu
ela.
- Liguei na loja, a Carol me disse que você havia ido
para casa. Resolvi ligar para saber como você está. – Ele não
existia, pensou ela feliz.
- Obrigada pela preocupação, mas estou bem. –
Agradeceu ela.
- Você quer jantar comigo amanhã? – Perguntou ele
casualmente.
- Aceito! – Ambos estranharam a resposta pronta dela.
Amanda percebendo seu erro quis se justificar. – É que o
Breno me convidou mais uma vez para jantar, e eu disse que
teria um compromisso. Você me salvou dele. – Amanda o
ouviu sorrindo e ficou menos tensa por seu ato impensado,
que poderia tê-lo feito pensar que ela estava querendo se
jogar em seus braços.
- Está vendo, sou seu anjo da guarda, quer você queira,
ou não. – Ela já sabia disso. Há muito tempo ele se tornara
isso e muito mais, por isso o medo de estragar a bela amizade
que construíram.
- Eu sempre soube disso. – Ela falou o que pensara há
pouco. – Você é, sem dúvidas, único. – Finalizou.
- Você também é. – Foi a resposta dele. - Você tem tido
notícias do Lucas? – Ele deveria estar sentindo falta do seu
filho, pensou Amanda.
- Sim. Falo com ele todos os dias por telefone, ou pela
cam. – Informou ela.
- Quando falar com ele novamente diga que estou
com saudades. – A criança havia se tornado, para ele, tão
importante quanto Amanda, e Antônio não se imaginava sem
ambos.
- Eu direi. – Amanda sempre seria agradecida pela
amizade que ele tinha com seu filho. – Ele também deve
estar com saudades. Sempre que falo com ele, pergunta por
você. - Todas as vezes o pequeno falava de Antônio, o que
não acontecia em relação ao pai.
Falaram-se por mais alguns minutos e se despediram
deixando o jantar confirmado. Quando Amanda voltou ao
quarto lembrou-se do dia em que Antônio se ofereceu para
ajudá-la. Ele havia chegado, em sua casa no final da tarde,
como fazia com certa frequência, e vendo-a chorar quis saber
o motivo.
- Quem foi o louco que causou estas lágrimas? – Falou
ele carinhosamente, tirando uma lágrima dos olhos dela com
a ponta do dedo.
Como ela não era acostumada com tanto zelo, apegou-se
a ele ainda mais.
- O pai do meu filho, do qual lhe falei, não me deixa
em paz. Ele quer uma reconciliação a qualquer custo. Para
conseguir seu objetivo ele está usando nosso filho, e isso me
chateia um pouco. – Não era fácil para ela ver Breno usando
seu filho para ter o que desejava.
- Não precisa sofrer por isso, querida. Diga não e
pronto, ele irá desistir de você e do seu filho como fez no
passado. - Ela queria acreditar naquela possibilidade, mas
algo lhe dizia que ele iria além.
- Breno poderá tentar ficar com a guarda do nosso
filho. – A dor no rosto dela o estava sangrando por dentro.
- Ele disse que lutaria pela guarda do Lucas? –
Perguntou Antônio incrédulo, pois ele sabia que ela fora mãe
e pai da criança.
- Ele ainda não disse, mas tenho medo que quando
perceber que não terá o que deseja, queira se vingar e recorra
pela guarda dele.
- Não acredito que seja fácil ele conseguir a guarda.
– Você certamente continuará sendo a responsável por seu
filho.
- Ele tem muita influência aqui, e nós sabemos que
isso pode contar muito. – Reclamou ela, quase em lágrimas
novamente.
- Não se preocupe, nenhum juiz em sua consciência
irá tirar o filho de uma mãe como você. - Antônio tentou
confortá-la.
- Ele tem melhor condição financeira que eu, terá mais
tempo para estar com o Lucas. Embora eu tenha certeza que
ele não se importa em ficar muito com ele.
- Com certeza são fatores importantes, mas não são
decisivos. Você sabe disso, só não quer ver. – Ele precisava
ajudá-la a sair daquele poço de dor.
Amanda permaneceu calada e Antônio pôde observá-la
melhor. A primeira vez que viu Amanda, ela estava levando
o filho para a escola. Fora nesse dia que ele descobrira um
sentimento novo. Antônio tinha seu escritório próximo à
escola e sempre que podia a observava levando ou pegando o
filho. Sua beleza e simplicidade o encantaram. Por vezes ele
saia para a calçada a fim de que ela o visse, e talvez lhe desse
um olá ou um sorriso de boa tarde. Ela, porém, não percebia
a presença dele, até que um dia a professora do seu filho, que
era amiga de Antônio, estava falando com ele e Amanda se
aproximou para cumprimentá-la, estendendo o cumprimento
para ele. Fora um dia muito feliz para Antônio, e a partir dali
ficou mais fácil ser percebido por ela. Quando ela chegava
alguns minutos antes do horário de pegar o filho, Antônio
aproveitava para convidá-la para um café, o qual, apenas
na segunda oferta, ela aceitou iniciando a amizade. Ele a
admirava muito. Amanda lutara bravamente quando teve que
cuidar sozinha do filho. Por várias vezes ele ia à casa dela
saber se precisava de algo, e mesmo em dificuldades ela dizia
estar tudo bem, com o mesmo semblante que estava agora.
Ele sabia que não era verdade, mas respeitava a opinião dela.
Custaram-lhe muitos nãos, até que ela começasse a aceitá-lo
como amigo e ouvinte. No principio, ela falava apenas
de sua intenção em abrir uma pequena empresa e pedia
conselhos. Com o passar do tempo, começou a falar sobre
sua vida particular, seu casamento fracassado. Antônio ouvia
a tudo, dando opiniões somente quando solicitado, e isso
pareceu agradar Amanda, pois as conversas tornaram-se mais
frequentes, até que ele se tornou o amigo que ela precisava
ter. Mais uma vez ela estava a sua frente precisando de ajuda,
e ele a ajudaria como fizera e sempre faria, mas o que fazer?
– Perguntou-se ele sem idéias.
- Antônio? – Chamou ela, tirando-o de suas lembranças.
- Hum! – Exclamou ele, voltando à realidade.
- O que posso fazer para resolver isso? Me ajude! – O
pedido era, na verdade, uma súplica.
Em uma tentativa impensada para ajudá-la, veio lhe a
mente uma loucura, mas que poderia ajudar.
- Amanda eu tenho uma idéia, não sei se é o que espera,
mas pode ajudar. – O arrependimento tardio não poderia mais
ser consertado. Amanda o observou curiosa, acreditando que
ele resolveria seu problema.
- Qual é a sua idéia? – Perguntou ela.
- Se você se casar novamente, com alguém que possa
dar uma família resolvida e bem estruturada para seu filho,
ninguém terá a oportunidade de tirá-lo de você. – Antônio
calou-se ao ver a reação dela.
- Acho que é uma idéia extrema, não pode ser a primeira
opção para resolver um problema. Na verdade, ela seria a
última, não acha? – Falou ela após o susto.
- Você tem razão. – Desculpou-se ele, sem entender
porque falara aquilo.
- Você acredita que alguém aceitaria uma loucura
destas para me ajudar? – Perguntou ela, agora achando graça
na idéia do amigo.
- Eu faria isso por você. – Amanda o olhou nos olhos
por instantes, deixando-o desconsertado. – Se você quiser,
claro. Casaremos, sem nenhum laço afetivo e quando você
quiser se separar é só dizer. – Por que fiz uma proposta dessa
e ainda me coloco a disposição? Ela vai pensar que estou
brincando com seu problema e irá me odiar.
- Querido, eu sei que você sempre está disposto a me
ajudar, mas se casar sem amor para resolver o meu problema
é demais, não posso aceitar! - O estrago estava feito. Agora
ele teria que ir até o fim, afinal a idéia não era tão louca assim
se olhada por outro ângulo, o ângulo da amizade.
- Pense a respeito, Amanda. Seríamos casados apenas
por aparências. Ninguém precisa saber. Seria por pouco
tempo, só até você ter a guarda definitiva do seu filho, e seu
ex-marido se conformar que perdeu você.
- Não quero estragar a nossa amizade. Eu gosto muito
de você e sei que se for conviver o dia a dia com meus
problemas, isso poderá prejudicar a gente. Vou deixar para
pensar em algo tão louco se Breno me forçar a isso.
- Fica a seu critério. Quero que saiba que qualquer que
seja sua decisão, ajudarei você. – Amanda tocou no braço
dele em forma de agradecimento pela grande dedicação.
- Quem tem um amigo como você, não precisa de mais
nenhum. – Era verdade o que ela dizia, Antônio se tornava
mais indispensável a cada dia.
- Vou indo. Se precisar de algo me liga. – Antônio
foi embora deixando Amanda pensativa, tentando absorver
aquela, que parecia uma loucura.
Na manhã seguinte, quando Amanda chegou à sua loja,
soube que o filho havia ligado.
- Ele ligou no seu apartamento, e como você não
atendeu, pensou que já estivesse aqui. – Falou sua assistente.
– Ele ligará à tarde. – finalizou ela.
- Tudo bem. Ficarei aguardando ele ligar, assim não
atrapalho os passeios dele. – Falou ela, sentindo saudades
do filho que fora passar as férias escolares com seus avós
maternos.
- Quando ele retorna, Amanda? – Perguntou a moça.
- No final do mês. – Respondeu ela. – Estou com tanta
saudade do meu pequeno. – Confidenciou.
- Não conheço esse sentimento ainda, mas sei que é tão
grande quanto a responsabilidade de se ter e criar um filho. –
A moça era avessa a maternidade, mas Amanda entendia sua
posição. Carol ainda era muito jovem, o que lhe permitia não
pensar nesse compromisso eterno, por algum tempo.
Era sábado, as lojas normalmente encerravam o
expediente ao meio dia, porém naquele dia, Amanda resolveu
ficar um pouco mais para verificar uma mercadoria que
havia chegado. Ela estava conferindo a nota fiscal quando
viu Breno acenando do lado de fora da porta de vidros. Da
próxima vez que trocar a porta, colocarei com vidro fumê. –
Pensou ela enquanto, relutante, ia atendê-lo.
- Boa tarde, Breno! Algum problema? - Quis saber ela,
olhando para as notas para que ele percebesse que ela não
tinha tempo para futilidades.
- Vim confirmar nosso encontro de hoje à noite. – Disse
ele fingindo inocência.
- Eu disse a você que teria um compromisso. – Amanda
não acreditava no que ouvia. Era muito descaramento para
uma pessoa só.
- Ontem você estava nervosa. Então pensei que hoje
poderia mudar de idéia.
- Sinto muito. – Disse Amanda, abrindo uma caixa. –
Mas a minha decisão continua a mesma. – Quando se livraria
daquela mala. Pensou ela. – Você fez sua escolha Breno, siga
sua vida.
- Eu não vou desistir de você, Amanda. – Breno se
aproximou muito. – Agora eu sei que te amo. Eu quero viver
com você, ver nosso filho crescer. – Breno pegou em seus
braços para forçá-la a se aproximar dele.
- Vá embora, por favor. Não torne mais difícil a
nossa convivência, em nome do nosso filho. – Pediu ela,
empurrando-o. – Você descobriu um pouco tarde o seu amor.
- Escute, Amanda. – Breno começava a ficar irritado
com a recusa dela. – Eu não quero magoar você, mas se
insistir em me ignorar e não pensar na possibilidade de
voltarmos a viver juntos, posso mudar de idéia. – O que ele
queria dizer com aquilo? – Pensou ela.
- Você esta me ameaçando? O que quer dizer com isso?
- Ela só podia estar enganada, ele não quis dizer o que ela
pensara que diria.
- Eu não quero te forçar a nada, mas sem você e sem o
meu filho não vou ficar. – Seus temores estavam confirmados.
Ele iria recorrer à justiça para ter a guarda do filho. - Se
continuarmos assim, vou buscar meus direitos e pedirei a
guarda do meu filho. – Ele parecia decidido, e essa certeza
deixou Amanda ainda mais nervosa.
- Você está usando nosso filho para me chantagear?
Você não pode fazer isso! – Ela estava furiosa.
- A decisão é sua, está em suas mãos. – Ele era ainda
mais cruel quando encurralado, e Amanda, vendo isso,
se sentiu mais frágil. Percebendo sua fraqueza, Breno
atacou novamente. – Eu sei que errei Amanda! – Ele disse
aproximando-se novamente. – Mas me arrependi, isso para
você não significa nada? – Perguntou ele.
- Não mais. Seu arrependimento não me fará esquecer o
que vi e tive que viver, com uma criança sem ter um trabalho
fixo, dependendo dos meus pais e do favor de amigos.
- Você não vai me perdoar nunca? – Insistiu ele.
- Eu já disse a você que se é o meu perdão que quer, eu
o perdôo, o que não quer dizer que pretendo voltar a viver
com você.
- Eu quero mais que isso. Se for preciso, vou lutar
para ter pelo menos um de vocês comigo. – Ele puxou-a,
prendendo-a em seus braços para forçar um beijo.
- Solte ela! – Disse uma voz áspera atrás de Amanda.
- Quem é você para se achar no direito de se meter
entre briga de casal? – Perguntou Breno soltando ela.
Quando Amanda se virou viu uma expressão de raiva na face
de Antônio.
- Pelo que sei não são mais casados. - Falou ele,
olhando para Amanda com um olhar mais terno.
- Que bom que você já veio me buscar Antônio. – Disse
ela, indo na direção dele buscar proteção.
- Quem é ele?- Perguntou Breno. - O que quer com a
minha esposa?
- Este é Antônio, a pessoa com a qual tenho um
compromisso hoje. – Breno olhou admirado para ela. Não
parecia estar satisfeito com aquela descoberta.
- Certo! Volto a falar com você depois, querida. – Breno
passou por Antônio olhando-o brevemente e foi embora.
- Está tudo bem com você? – Quis saber Antônio,
preocupado.
- Sim, eu estou bem. – Ele aproximou-se percebendo
sua fraqueza e a enlaçou.
- Ele irá pedir a guarda do Lucas. – Seus olhos estavam
cobertos por lágrimas que cairiam logo.
- Que canalha. Como pode alguém sem amor próprio
desta forma? Usar uma criança para fazer a mãe ficar com
ele. – Antônio lembrou-se da oferta que fizera. Deveria
insistir mais, pelo bem de Amanda. – Aceite a minha proposta
Amanda, case-se comigo.
- Ele vai tirar meu filho. – As lágrimas rolaram no rosto
dela, causando uma imensa dor em Antônio.
- Eu sei, minha querida. – Antônio a puxou para seu
peito a fim de diminuir sua dor. – Ele sabe do imenso amor
que você tem pelo Lucas, e está usando isso para te deixar
vulnerável e assim te convencer a voltar para ele.
- Eu não quero viver tudo aquilo de novo. –
Choramingou ela, encostada no ombro dele. Antônio estava
achando aquele contato maravilhoso
- Então case-se comigo. – Antônio a afastou um pouco
do seu corpo. A proximidade o estava deixando sem razão
e Amanda não precisava de uma atitude destas por parte
dele naquele momento. – Quando você quiser desfazer o
casamento, nós o desfaremos. Com relação ao sexo, eu
jamais te pediria isso. – Ela ficou envergonhada ao imaginar
tal coisa. Parecia tão distante a possibilidade de terem
uma relação sexual, mas a palavra pronunciada lhe causou
calafrios.
- Eu sei que você não faria isso, mas tenho medo que
nossa amizade seja abalada. – Explicou.
- Você não perderá minha amizade, e eu sou bem
grandinho para saber o que é melhor para mim, não se
preocupe comigo.
- Tudo bem, prometo que vou pensar a respeito, mas
ainda não acredito que seja a melhor opção, embora eu
não tenha nenhuma outra. – Seu tempo estava acabando e
ela teria que decidir mais cedo ou mais tarde o que fazer.
Naquele momento só queria um pouco de paz e nada mais.
- À noite falamos mais sobre esse assunto. – Finalizou
ele. – Agora vamos que vou deixar você em casa.



0 comentários :

Postar um comentário